sábado, 19 de novembro de 2011

Cópia e releitura.

Almoço na relva, de Manet, mostra duas mulheres (uma nua, outra em camisa) e dois homens vestidos num bosque, à beira de um riacho, desfrutando de um piquenique."

Édouard Manet: Almoço na relva, 1863.

 A diferença entre Releitura e cópia é a seguinte: na cópia você reproduz fielmente (ou pelo menos tenta) o quadro do artista. É isso que os falsificadores fazem. Neste caso você está apenas preocupado com o poder de observação e capacidade para copiar. Já a Releitura implica em produzir aquilo que se entendeu da obra, sem preocupações com semelhanças. É o sentimento se aliando à observação na produção de um trabalho.
 Os artistas não criam num vazio. Eles são constantemente estimulados por outros artistas e pelas tradições artísticas do passado.

 Veja Picasso, por exemplo:
 A respeito de seu espírito imensamente fértil e original, Picasso também procurou revigorar-se voltando aos mananciais da tradição. Assim, em fevereiro de 1960, retornou mais uma vez a um famoso quadro de Manet em busca de inspiração.
 A primeira pintura de Picasso sobre o mesmo tema é uma cópia razoavelmente direta da obra de Manet, pelo menos, no que diz respeito ao número e localização das figuras,
embora o estilo seja, é claro, acentuadamente diferente.

 Começou a reelaborar os detalhes, a modificar os elementos, por vezes remodelando até a composição toda. Em 1963, tinha produzido nada menos de 27 óleos e mais de 150 desenhos baseados no famoso original de Manet.


 A própria pintura de Manet causou sensação quando foi exposta em 1863, sendo considerada revolucionária. Mas, embora Manet tivesse pintado o quadro em seu próprio estilo, também ele fora buscar a idéia na tradição.
O Julgamento de Páris (1520) de Marcantonio Raimondi, que por sua vez a executou a partir de um original, hoje perdido, de Rafael (1483-1520).
O Julgamento de Páris (detalhe), 1520. Gravura de Marcantonio Raimondi 
 Este no entanto, como todo pintor renascentista, teria buscado inspiração na arte greco-romano, através das esculturas de um velho sarcófago romano.
O próprio Rafael, como outros grandes artistas, inspirou-se reconhecidamente na tradição, pois seus deuses fluviais são claramente sugeridos pelos fragmentos mutilados do relevo de um sarcófago que ele deve ter visto e estudado em Roma."
Detalhe de um sarcófago romano, século III d.C.
Maurício Villaça (grafiteiro) fez o Almoço na Relva, quadro de Manet, em que a moça nua contracena com o Fantasma, das historias em quadrinhos.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

domingo, 6 de novembro de 2011

Esse é o meu universo.



Teixeira Coelho

“Muita coisa pode ser objeto de arte.

O belo, sem dúvida. Mas também o feio.

O melancólico, tanto quanto o gracioso.

A realidade da natureza e a surrealidade da idéia.

As formas de linhas regulares e previsíveis e a informalidade de manchas que se sobrepõem sem nunca se definirem.

O mundo das formas humanas ou humanizadas e o universo das deformações.

O bem e o bom tanto quanto o mal.

Uma não é melhor que a outra, uma não é mais ou melhor que outra.

Todas são modos variados do desejo de arte.”

Parte de um texto de Teixeira Coelho (escritor, crítico de arte e colaborador da revista Bravo!).

O luto da arte

A tese da morte da arte ainda significa mais do que parece


Damien Hirst: a arte contemporânea, sendo trabalho do luto, prova sempre a experiência do desgosto
A discussão sobre a morte da arte teve um lugar essencial nas Lições de Estética, de Hegel, no século 19. Não se pode perder de vista que a morte da arte à qual Hegel se referia era a da arte bela e não da arte de modo geral. Se Hegel tem razão, em havendo uma morte da arte que não deve ser generalizada, trata-se de entender que tipo de arte, para além da arte bela, sobreviveu. Em um século de genocídios, ditaduras e violências de toda sorte, a arte é a memória da sua própria morte.    
A pré-história dessa percepção está na Crítica da Faculdade de Julgar, de Kant, que antes afirmou a existência de dois sentimentos, o belo e o sublime, como sustentáculos da experiência estética. Belo – a sensação de prazer com os objetos agradáveis – e sublime – um misto de prazer com desprazer – são formas de acesso subjetivo à beleza, tanto da natureza quanto das artes. Kant define a arte bela como aquela que pode representar de modo belo até mesmo as coisas feias. A tarefa histórica da arte sempre foi a de colocar beleza no mundo e suplantar o feio. Criamos essa expectativa e isso hoje em dia não nos ajuda.        
Mas o próprio Kant disse que havia uma espécie de feiura, que não pode ser representada de acordo com a natureza sem cancelar a complacência estética, ou seja, a nossa capacidade de perceber a beleza em geral e a beleza da arte. Kant refere-se à feiura que desperta asco. O asco, segundo Kant, é uma “sensação peculiar” marcada pela imposição do objeto feio que imediatamente se nos lança sobre os sentidos, sem que desejemos aceitar sua presença. O filósofo espanhol Eugenio Trías dá um exemplo repugnante só de ler: quem pisa em um rato morto e eviscerado na rua tem a sensação de que ele vai parar dentro da boca. A experiência do asco se dá como se um prato de merda fosse oferecido para se comer.     
O asco é uma espécie de sentimento impossível, por estar na contramão do gosto. Podemos traduzi-lo por nojo. E nojo é algo que se traduz por luto. A experiência do asco ou do nojo, como experiência do des-gosto, é da mesma ordem da experiência do luto, de algo que não desejamos e que mesmo assim se impõe. A lástima pela perda de um objeto amado, mas também do gosto – seja pela arte, seja pela vida – que acompanhava aquele objeto é experiência disseminada em nossa cultura, da qual a arte atual vem a ser a apresentação mais clara.     
A arte, do asco ao luto
O luto é sempre uma reação à perda de um objeto amado. É, portanto, a experiência da morte enquanto ela pode ser conhecida: a morte dos outros, das coisas, das experiências. Até mesmo, como em Luto e Melancolia, de Freud, a perda de uma abstração, de um ideal qualquer. Nunca a da epicuriana morte que não encontraremos, pois já não estaremos quando ela aparecer. A arte contemporânea é experiência enlutada e, por isso, dói tanto tratar dela. Encará-la é experimentar o luto na forma de sua exposição possível. Mas, se há entre arte e vida, entre ficção e realidade, uma relação que é sempre de mimese, por imitação ou por mimetismo, e se há tanta perda na vida, a arte não deveria ser nosso resgate para além do que a vida nos dá sem nenhuma elaboração?     
A promessa romântica da arte é que ela viria nos salvar da vida. Mas, após a perda da ingenuidade romântica, por que ainda esperamos tanto da arte? Arte é apenas um conceito que tem tão pouco valor quanto pouco uso nos dias de hoje. No entanto, arte ainda é, como conceito, algo que vai na frente da nossa sempre atrasada sensibilidade. Que a arte mova nossa sensibilidade é a esperança sem fundamento de muitos, mas sensibilidade é uma formulação imprecisa entre o perigoso culto da emoção e os sentimentos que só são elaborados mediante a interferência da racionalidade capaz de criar conceitos. Não há chance de que arte hoje seja mais do que uma construção para fazer pensar.     
Temos na experiência contemporânea da arte a autopresentificação do seu próprio luto. Como se a arte ainda estivesse no período enojado em que tem que se haver com a memória de um cadáver que é ela mesma e que, na verdade, mimetiza o estado das coisas de um mundo em crise de sentido. Assim é que a obsolescência do conceito de arte o coloca na posição de um conceito-memória. Um conceito que foi válido, mas que perdeu sua circunstância na atualidade. Arte não é mais a bela arte, ainda que possamos com muito esforço descobrir nas obras que a beleza também é um conceito e, como tal, uma visão das coisas.     
O paradoxo do gosto
O que a arte contemporânea nos sugere é a experiência do paradoxo do gosto. Como é possível “apreciar” esteticamente aquilo que repugna se neste momento a experiência estética como mediação entre sensibilidade e racionalidade foi anulada? A questão é que a arte contemporânea, sendo trabalho do luto, acontecendo na contramão do gosto, provoca sempre a experiência do desgosto. Por isso, a arte conceitual tem tanto espaço em nosso tempo, por chamar ao pensamento em tempos de cancelamento da sensibilidade. É como se toda obra nos enviasse a mensagem: se não podemos “gostar”, podemos “pensar”. É o paradoxo da inestética: a sensação é de perda da sensibilidade na arte; mais do que um problema da arte, é problema da cultura na qual ela surge. Um artista como Damien Hirst, com seus bezerros e tubarões no formol, não é, portanto, julgável segundo o padrão do gosto pela arte bela, porque estamos em tempos de perda do gosto. O que será que ele nos mostra que não sabemos pensar?     
Com isso se consegue compreender o que acontece com a arte atual. Ela é a experiência da morte da própria arte bela nestes tempos de desgraça cultural. Tempos tensos: de um lado tragicofílicos – desejamos a tragédia – e de outro tragicofóbicos – evitamos a morte a qualquer custo –, como disse Hans Gumbrecht. Podemos dizer, nestes tempos, que a arte se faz na ordem do trágico, este sentimento da “morte em mim”, da morte como experiência subjetiva, como imagem da melancolia que nada mais é do que a morte do eu e do pensamento que sempre foi a prova de que existia algo chamado “eu”. Não, não exageremos.     
A arte contemporânea não é nem trágica nem melancólica. Enlutada, ela nos pede que ultrapassemos a memória da morte e reinventemos o presente. Só o que impede isso é o capital culto à desgraça em que vivemos hoje. O gozo atual é com a ideologia da morte como um fim, quando, na verdade, estúpidos e conceitualmente avarentos, não sabemos entender o valor e o poder das transformações históricas das quais a arte nos dá apenas uma imagem para nos fazer acordar. Mas quando até mesmo a desgraça se tornou um “capital”, haverá espaço para a arte que denuncia o seu caráter capitalista? (Marcia Tiburi)
Fonte: http://revistacult.uol.com.br/home/2010/04/o-luto-da-arte/#.TrchKC7h05M.facebook

Entrevista com Fernanda Russo

http://www.aracatubaeregiao.com.br/entrevistadofernandarusso.htm

sábado, 5 de novembro de 2011

Oficina "Percepção e olhar fotográfico" realizada em setembro de 2010 pelo SESC - Bertioga. Ministrada por Fernanda Russo.




Oficina "Percepção e olhar fotográfico" realizada em janeiro de 2010 pelo SESC - Araçatuba e Birigui. Ministrada por Fernanda Russo.




Oficina "Percepção e olhar fotográfico" realizada em julho de 2010 pelas Oficinas culturais Silvio Russo - Araçatuba. Ministrada por Fernanda Russo.



Alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Ana Barros



Araçatuba




2005

"Reminiscência"

Trabalhos em papelão



"Retratos da noite"

"Retratos da noite"

Real?


intervenções fotográficas

"Inquietude"

"Rua"

"Entre a luz e a escuridão"